terça-feira, 29 de abril de 2008

A Panacéia Educacional do Governo Yeda

A PANACÉIA EDUCACIONAL DO GOVERNO YEDA
(OU SERÁ QUE SOMOS TODOS BURROS?)


Em reportagem de ZERO HORA do dia 27 de abril, intitulada “Piratini prepara revolução em carreiras”, o Governo do Estado do RS, dirigido pela Srª Yeda Crusius até o ano de 2010, definitivamente mostra para que veio.
E definitivamente mostra que veio para transferir responsabilidades, confundir a opinião pública, difundir a idéia de que o servidor público de carreira é o responsável pela qualidade do serviço público do estado.
Poderíamos mudar a linha de raciocínio e concluir que na verdade nossa incapacidade racional não nos permite estabelecer a relação simples e lógica que a governadora expressa com suas idéias revolucionárias.
Então vejamos. Para a governadora o serviço público do estado e suas leis pré-históricas são responsáveis por frear a competitividade do RS. Preocupado por não conseguir estabelecer a relação, talvez por uma formação acadêmica precária em história, consultei dois amigos economistas que, para meu espanto, ficamos os três sem conseguir acompanhar tal raciocínio.
Inconformado por nossa falta de sagacidade, ainda mais pelo compromisso que temos com uma educação pública de qualidade, só podemos concluir que nosso despreparo foi culpa das instituições nas quais nos formamos e, que no final, contribuiu o “estágio de mentirinha” (me permitindo citar a sábia e filosófica declaração da secretária Mariza Abreu) que realizamos com o aval das escolas irresponsáveis nas quais estagiamos.
Do lugar de educador, com contrato temporário, a afirmativa que pode causar mais revolta é aquela que sentencia que “o principal desafio é reverter à lógica que impera no funcionalismo: a de entrar na carreira de Estado de olho na aposentadoria”. Pelo que me consta, entramos na carreira de estado de olho na sobrevivência! Mas o que me choca é que, enquanto escrevo, busco contrapor o argumento de quem recebe de salário mais de R$ 7.000 por mês, R$ 84.000 por ano e R$ 336.000 em quatro anos, enquanto que um trabalhador gaúcho, com um mínimo regional, tenha que trabalhar 65 anos sem gastar um centavo para acumular R$ 335.571,60.
De qualquer forma, deixando de lado a sátira e o espanto por tais colocações, é preciso encarar o papel do Estado e a ação de governo com a eminência de quem tem consciência dos assuntos públicos e, de preferência, com uma agenda de responsabilidade social.
Nesse sentido queremos afirmar que a política de premiação deve vir bem depois da política de dignidade salarial, que a responsabilidade pelas políticas de estado não são dos servidores públicos que têm funções estatutárias definidas e não funções de mandato; que a qualidade do serviço público é o resultado do seu investimento público e da valorização profissional e que o funcionalismo público é exercido com responsabilidade, com compromisso e permanecerá responsável e compromissado após a passagem deste governo.
Ainda assim, entendemos, trabalhadores em educação e demais servidores públicos do Estado do RS, que mais do que nunca é preciso abrir o diálogo com a sociedade gaúcha e exigir políticas públicas de impacto social que conduzam nosso estado ao crescimento, ao desenvolvimento, à melhoria da qualidade de vida de todas as pessoas. E acima de tudo, que se faça isto com respeito ao servidor público que tem no sangue a cultura da solidariedade e do compromisso gaúcho.
Paulo César Machado
Vice Diretor 34º Núcleo do
CPERS/Sindicato
Guaíba

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Dilema da Educação Pública

Luiz Etevaldo da Silva*

Pensar a educação é sempre necessário para quem luta pela afirmação e ampliação da democracia, da cidadania, pela justiça, ou seja, pelo desenvolvimento social. Num país como o Brasil, com imensas desigualdades sócio-econômicas, a educação pública é a única chance que dispõe a maioria da população para possibilitar à alfabetização, acessar ao conhecimento escolar, desenvolver as competências e habilidades que a sociedade contemporânea requer para dar conta das demandas do mundo do trabalho e das sociabilidades.
Nas últimas décadas, temos ouvido discursos e debates entre o Estado e a sociedade civil acerca da importância da inclusão dos excluídos sócio-economicamente na escola (pública). Isto acabou melhorando bastante. Agora a luta é pela qualidade da educação pública. Este considero um dos grandes dilemas do momento histórico que vivemos, em nível de Brasil. Visto que educação pública de qualidade supõe uma visão política que tenha como pressuposto dar oportunidades aos setores populares de igualdade de interação no mundo do trabalho, político, social, cultural, etc. “Neste momento alguém (da elite) certamente gritará, pára aí! O povão não pode colocar os privilégios da elite (econômica, social, cultural e política) em risco”. O importante, para os representantes dela, é oportunizar escola para todos. Porém, a qualidade é uma outra coisa.
Qualidade da educação pública não interessa aos que sempre tiveram e defenderam os privilégios da elite. Para manter a realidade social configurada como está os setores políticos têm claro que a desigualdade na educação remete à desigualdade social e econômica. Esta é uma das razões principais que não interessa educação pública de qualidade. A visão do capitalismo vigente controla a ascensão dos grupos populares, também, através da educação. Por isto, há aqueles que pensam e defendem que a escola pública não precisa ter supervisora, orientadora, bibliotecária, laboratórios, tecnologia. Na visão dos arautos do sistema, o povão não deve ter educação de qualidade, ele serve, principalmente, para ser objeto do sistema. Esta é a lógica entendida de forma simplificada. Para os conservadores, os setores populares não podem aprender a pensar a complexidade dos processos de dominação e a perversidade da política neoliberal.
Como os governantes são, em geral, da elite, educação pública continua décadas e décadas com índices desfavoráveis. O pior, passam para a sociedade que os principais culpados pela educação com baixa qualidade são os professores, que não são criativos. Segundo o ideário neoliberal, o sistema é uma beleza, nós é que somos incompetentes! Escondem sutilmente a lógica de exclusão do sistema vigente, que se dá, também, por meio do sistema de educação.
Quando ouvimos a educação vai mal, devemos perguntar, qual? A da elite vai bem! Pelo menos não ouvimos protestos em favor de qualidade na educação privada. Lógico que procuram qualificar mais a cada dia. Neste momento de construção de greve nas escolas públicas estaduais, em favor de educação pública de qualidade, os governantes não estão nem aí. Pois, os filhos deles certamente estão nas escolas particulares. Greve nas escolas públicas significa mais oportunidade para os filhos deles, que ganham tempo no desenvolvimento cognitivo e cultural.
O problema fundamental da educação pública ineficiente é político. São princípios e concepções que valorizam mais a lógica do mercado à lógica da vida. A luta por um modelo de sociedade em que o social esteja acima do mercado é o desafio primordial deste início de século. Pois, não há país desenvolvido sem educação de qualidade. A politização, nossa educadores e setores populares, é fundamental para mudar o curso da história, sobretudo no RS, pois é aqui que vivemos momentos difíceis, por causa da investida neoliberal. A nossa mobilização é que pode impedir o desmantelamento do sistema público de ensino. “Avante educadores, pais e alunos das escolas públicas”!

*Professor(Ijuí/RS)- email: luizetevaldo@yahoo.com.br