sexta-feira, 13 de junho de 2008

A DIMENSÃO POLÍTICA DO CONHECIMENTO

Luiz Etevaldo da Silva**
Que modelo de sociedade pretendemos? Sempre que fazemos esta pergunta estamos nos referindo à política, sem recorrer a conceitos de famosos filósofos e cientistas políticos. No ponto de vista educacional faz-se necessário pensar em primeiro lugar o que pretendemos ao educar. Que conteúdos escolares são importantes para criar condições de constituir formas de sociabilidades que valorizem a vida em primeiro lugar. Cujos sujeitos no processo social aprendam a pensar a sociedade levando em consideração as diversas dimensões que configuram as práticas sociais e políticas. Na sociedade temos correlações de forças que disputam espaço e cada uma defendendo seus interesses. Num Estado democrático é fundamental que tenhamos capacidade de dialogar, com capacidade de discernimento, para buscar entendimentos sobre o que é melhor para nós. Neste processo a educação é indispensável.
Buscar um conhecimento para uma vida decente é procurar pela própria história da educação enquanto instituição que contribui para a cristalização do modelo preconizado pela modernidade e, a partir do compromisso articulado no e com o mundo, construiremos sua superação, apontando para uma escola possível e viável para as classes populares (Costa). A relação entre educação e política é determinante para quem pensa em mudanças sociais, políticas e econômicas. Tudo tem ligação com a política. A sociedade que temos é resultado de ações articuladas por ela. Alguém em algum tempo e espaço pensou o que seria o mais adequado, de acordo com seus interesses. A história social não é algo natural, ela é construída por homens e mulheres no processo de viver em sociedade.
A sociedade precisa ser pensada e repensada. Se nós não pensarmos, alguém fará por nós. Mas, não é suficiente apenas pensá-la. È necessário consciência e depois enfrentamento para construir as formas de sociabilidades, as relações dos humanos com a natureza e com o mundo do trabalho que desejamos. Entender e compreender o processo histórico como possibilidade é condição para sermos protagonistas da história. “A possibilidade está em dizer a palavra, em desafiar os grupos populares, para que percebam, em termos críticos, a violência e a profunda injustiça que caracterizam sua situação concreta”(Freire). Política, então, é refletir para encontrar meios inteligentes e éticos para se construir relações que favoreçam a cidadania. É participar e dizer o que desejamos. A educação para politização tem compromisso com a dignidade humana, ou seja, com os direitos humanos.
O discernimento político depende da crítica para desvelar as dimensões ocultas das relações de poder do processo social. A problematização e esforço para entender as correlações de força de um determinado contexto sócio-político é fundamental para entender seu funcionamento e perceber quem é quem no processo. O Conhecimento é importante para tomar decisões. Ele diminui o âmbito das incertezas. Permite ter uma visão ampliada e dialética do processo histórico. Por isso, considero que ele é argamassa indispensável para o desenvolvimento social. “O conhecimento, como resultado de processos de aprendizagens, não existe no abstrato. Ele só existe aderido a pessoas, enquanto significado por sujeitos cognoscentes, ou reconhecido como tal. Um ato de conhecer implica, portanto, a cumplicidade do sujeito que o realiza”(Boufleuer). Todo conhecimento tem na sua constituição uma dimensão política. É resultado de intencionalidade das pessoas que criam conceitos para expressar (e defender) o que pensam e desejam.
O processo educativo tem que levar em consideração que o conhecimento é um “instrumento” e, como tal, pode ser usado para transformar ou para conservar as estruturas e os processos de uma determinada realidade sócio-histórica. Sempre que tomamos contato com um conhecimento, precisamos perguntar: quem a construiu, em que circunstâncias, o que está por trás dele, onde quem a construiu quer chegar com ele? Pensar em educação e política é tentar descortinar os interesses que estão em jogo num determinado processo histórico e colocá-los sob a luz da razão. É procurar fazer uma leitura do mundo com vistas à pretensão de decifrar a essência dos fenômenos, ir além das aparências e subverter a ordem do superficial. Somente assim, teremos condições de defender nosso processo de sociedade.
* Texto publicado no Jornal da Manhã, Ijuí, 05/6/08.
**Professor